A eleição
presidencial de outubro já tem uma marca exclusiva: nunca antes ex-presidentes
foram tão influentes nos destinos dos candidatos de seus partidos. A ponto de,
muitas vezes, assumirem o protagonismo do debate e ocuparem as manchetes no
lugar de quem estará diretamente sob o julgamento das urnas. Em nenhum outro
país isso acontece, não na proporção e com a naturalidade com que ocorre no
Brasil.
Nas últimas semanas,
não passou um dia sequer sem que ou o tucano Fernando Henrique ou o petista
Lula não tivesse procurado criar fatos políticos um atrás do outro. Chamando o
adversário para a briga verbal, FHC registrou dias atrás que Lula não sabe reconhecer
seus próprios erros, preferindo apenas atacar quem o critica. Dando de ombros,
ele devolveu que não lê o que Fernando Henrique. A troca de farpas, sem dúvida,
vai continuar cada vez mais certeira até outubro.
Enquanto Fernando
Henrique, na eleição, joga a favor do resgate de seu estilo de governo, Lula
trabalha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff para ele próprio ter um
caminho de volta à Presidência da República mais suavizado, com uma aliada no
poder. Pela idade, FHC não pensa em voltar, mas o antigo núcleo de sua equipe
econômica, com Armínio Fraga à frente, já fala em nome de Aécio e muitos de sus
antigos auxiliares em outras áreas ocupam postos chave na campanha. O
tesoureiro, por exemplo, é seu ex-ministro e amigo pessoal José Gregori.
A influência de Lula
sobre Dilma se dá em outro plano. O ex-presidente tem no jornalista Franklin
Martins e no chefe do gabinete presidencial Gilberto Carvalho homens de sua
confiança no centro da campanha de reeleição. Lula manterá a posição, se Dilma
ganhar a eleição, de principal interlocutor da presidente, saindo como
pré-candidato favorito no PT para concorrer em 2018.
Aos 83 anos,
Fernando Henrique não alimenta planos de voltar. Mas ele também tem muito a
ganhar. A vitória de Aécio, que ele próprio lançou e que não esconde a
admiração pelo governo e o estilo pessoal do ex-presidente, seria um
espetacular resgate de sua herança política. Depois de ter tido sua gestão
defenestrada seguida por Lula, primeiro, e por Dilma, sem seguida, FHC atua
fortemente para vencer essa revanche. Ele tem concedido mais entrevistas e não
se furta a orientar os passos do candidato. Veja brasil247