No dia 12 deste
mês, o professor de Biologia Carlos Cristian Gomes, de uma escola estadual de
Sergipe, levou cinco tiros de um aluno de 17 anos, que teria ficado revoltado
com uma nota baixa. Gomes está internado em estado grave e respira por
aparelhos. Esta semana, professores do Ciep Pablo Neruda, no bairro Laranjal,
em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, ameaçaram parar suas atividades
em protesto por causa das constantes agressões verbais desferidas por alunos.
Os dois casos
recentes de violência contra docentes ilustram pesquisa feita pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que revela que 12,5% dos
professores ouvidos no Brasil se disseram vítimas de agressões verbais ou
intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. A enquete foi feita em
todo o mundo e abordou mais de 100 mil professores e diretores de escolas do
segundo ciclo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (alunos de 11 a 16 anos).
O resultado põe o Brasil no topo do ranking de violência em escolas.
“Infelizmente, isso
é pura realidade. No Estado do Rio, os professores são vítimas diariamente de
vários tipos de agressões físicas e verbais. Tanto que estamos preparando um
levantamento sobre o assunto”, diz a professora Beatriz Lugão, diretora do
Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ).
De acordo com ela, o clima de violência nas escolas públicas é desencadeado por diversos motivos.
“Sobretudo pela
quantidade insuficiente de professores, falta de inspetores, espaços físicos
sucateados e insegurança no entorno. No meio disso tudo, como um para-raio,
está o professor”, diz ela.
Os índices
referentes ao Brasil são os mais altos entre os 34 países pesquisados, onde a
média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a Estônia, com 11%, e a
Austrália com 9,7%. Na Coreia do Sul, Malásia e Romênia, o índice é zero.
Além de ataques,
professores convivem com ameaças de morte. É o caso de R., 45 anos, que há dois
anos teve que sair do Ciep Estadual Raul Seixas, em Costa Barros, depois de
retirar um aluno que fazia bagunça na sala de aula e apanhou dele, da mãe e do
irmão do estudante. O caso foi registrado na 39ª DP (Pavuna).
Para Dirk Van
Damme, chefe da divisão de inovação e medição de progressos em educação da
OCDE, pela escola estar mais aberta à sociedade, os alunos levam para a aula
seus problemas cotidianos. “Essa é uma das possíveis razões pelo quadro
revelado pela pesquisa”, argumenta Van Damme.
De acordo com ele,
o Estudo Internacional sobre Professores, Ensino e Aprendizagem (Talis, na
sigla em inglês), também expôs que somente um em cada dez professores (12,6%)
no Brasil acredita que a profissão é valorizada pela sociedade. Nesse quesito,
a média global alcançou 31%.
Pela enquete, o
Brasil está entre os dez últimos da lista em relação ao assunto. No último
lugar aparece a Eslováquia, com 3,9%, seguida de França e Suécia, onde só 4,9%
dos professores acham que têm o devido valor perante a sociedade.
A surpresa ficou
por conta da Malásia, onde 83,8% dos professores acham que a profissão é
valorizada. Cingapura, com 67,6%, e a Coreia do Sul, com 66,5%, também tiveram
boas avaliações nesse item. A pesquisa indicou ainda que, apesar dos problemas,
a maioria dos professores no mundo se diz satisfeita com a função.( O DIA)